Dou pra qualquer homem que saiba usar a crase

Escrever e deixar que te leiam

Verborial

estria

Escrever e deixar que te leiam;
É um ato de amor
Ou de no mínimo carinho
É usar um ”pode lê” como um confio em você
É mostrar-se à vontade
É sentir-se de casa
Na ”casa” do outro

Escrever e deixar que pessoas próximas te leiam;
É como usar o banheiro com a porta aberta
É como tirar a roupa em plena luz do dia

Permitir que saibam tanto sobre o quê
E quem você é
Não é uma tarefa fácil
Além do que; há um risco
Um grande risco de rejeição quando se é
Inteiramente verdadeiro e desnudo
Há estrias, e avarias
Que nem todo mundo vai fingir que não vê
Ou que não sente

Escrever e deixar que te leiam;
É como ter visitantes na sua alma
Na sua mente
Alguém passeando
E observando tudo de muito perto
Um turista
Numa viagem dramática
Num tour que só você…

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O Berloque Prateado – Cap 1

Morgan descobriu, a duras penas, que precisava aprender a não dormir. Pelo menos não sofreria de insônia.

Desviou o olhar do relógio, sabia que estava atrasada. Não que se importasse, ao contrário, dos poucos prazeres que lhe restaram, não participar das refeições sociais era um deles e, como o próprio relógio acusava, já passava das oito horas quando finalmente desistiu de dormir.

As velas do quarto estavam acesas, pequenos demônios dançando sob luzes douradas, relembrando a quem ela deveria agradecer a gentileza inoportuna; mas ele estava ocupado, recebendo e divertindo os convidados durante aquela reunião insípida, que servia apenas para atribular os empregados e fazer dela uma presença necessária. Uma obrigação a qual ela raramente atendia.

Francamente, qual a parte de “não entre em meu quarto” ele ainda não entendeu? Ou nunca ouviu a expressão “invasão de privacidade” ou ignorava seu significado com a descarada intenção de contrariá-la. Admitiu que não colaborava muito para manter o desinteresse de Rúben em sua vida, pois sua insubordinação natural era um forte estímulo para um homem de perfil controlador e egoísta, entretanto, ela não era obrigada a mantê-lo feliz.

Sentiu a velha nostalgia tomando conta do seu coração novamente e observou cada detalhe do requintado aposento. Era clássico e prático, porém elegante. Apresentava uma imensa janela que, em noites escuras descortinava uma bela visão do céu e em estações mais amenas proporcionava um panorama espetacular do jardim.

 

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Inconsciência

São os sentimentos inesperados que assombram, como se soubessem de algo que permanece oculto, ignorante à razão, mas determinam seu momento explicitamente.

São inexplicáveis em sua natureza, consomem vorazmente e acovardam a lógica.

Intercalados entre a paz hipócrita e a lucidez instintiva de um coração abrandado pelo tempo.

A chama inclemente transforma-se em cólera, queima os sentidos e reclama sua existência e relevância.

Talvez seja a inconsciência sobre si mesmo que, uma vez desperta, reconhece a sincronia constantemente ignorada.

A alma pede por uma alimento que o corpo não assimila sua digestão, assim como a razão é estraçalhada  pela falta de concepção.

A imaginação é assolada por uma ideia inadmissível, porém real, latente.

Apenas você a sente e é devorado por ela; transforma a calmaria superficial num inferno lúcido do qual é impossível escapar.

São os pensamentos omissos, as opiniões enclausuradas, a rebeldia contida, o desejo acorrentado; todos excelentes combustíveis para acelerar a audácia e transformar uma pequena coragem em um ato consumado.

Um átimo, é o que falta para torná-la real…

A música atormenta sadicamente, doentia; o sangue ferve e a visão se turva; quantas possibilidade se fizer, quantas frustrações se desistir?

O caráter é questionado, a religião é esquecida, os conceitos derrubados.

Minutos transformam-se em horas, a espera, eterna.

Nesse momento você implora por algo superior e o silêncio é devastador.

É imprudente pensar sobre o delírio, certamente achará sua causa … ou a resposta para a súplica.

A reflexão retrocede frente à verdade, pois não encontrará clemência nem compaixão por sua busca petulante; será explorada, exposta e sua pureza artificial eliminada!

O ébrio verte a libido, seduz o tormento e docemente adormece o demônio, prometendo uma paz inalcançável, ainda que real.

DarkMoon

Silêncio

Um momento irritante. Doloroso inicialmente. Libertador no final.

Não há ruídos. Apenas a gritante presença do vazio.

Uma circunstância que oferece uma única opção ao sujeito: Sentir!

Sinta suas falhas. Assuma suas fraquezas. Chore no final.

Mas não perturbe o silêncio. Não é autocomiseração. É desabafo!

Sinta a insônia. Converse com as frustrações. Reveja as convicções.

Mas não perturbe o silêncio.  Isso não melancolia. É introspecção!

Sinta o hoje. Abandone o passado. Esqueça o amanhã.

Mas não perturbe o silêncio. Isso não é sobreviver. É autopreservação!

Sinta os amores vividos. Lamente os perdidos. Decepcione-se com a impulsividade.

Mas não perturbe o silêncio. Isso não é incompetência. É transparência!

Sinta a complexidade. Explore a sanidade. Desampare a intelectualidade.

Mas não perturbe o silêncio. Isso não é imaturidade. É temeridade!

Sinta a beleza imperfeita. Conceba a assimetria. Devore as paixões.

Mas não perturbe o silêncio. Isso não é arrogância. É autenticidade!

Finalmente,

Saboreie as tragédias. Satirize a felicidade. Viva a fantasia. Oblitere a realidade.

Isso não é alienação. É contradição!

Mas não perturbe o silêncio.

DarkMoon

Ruínas

Todos estão caindo e decaindo. As aflições da alma nos fazem sucumbir às tentações que tem suas origens na dor e na repreensão; tornam-se pensamentos fixos e são o combustível para as atitudes mais impulsivas e inconsequentes da vida.

O intelecto se renova a cada minuto mas a alma permanece imutável. Não importam quantas vezes, nem onde nem as circunstâncias do seu renascimento; ela trará consigo a bagagem de suas viagens anteriores;

O sofrimento prevalece e no seu seio gera seus filhos; sentimentos obscuros e inadmissíveis em nossa vida medíocre, porquê queremos ser bons e aceitos.

Engana-se aquele que acredita no perdão, no amor incondicional e na bondade altruísta; conceitos decadentes, elaborados por uma sociedade hipócrita, cheia de tabus e presa por amarras de aço.

 

DarkMoon

A claustrofobia em negro e vermelho

Na claustrofóbica noite a lua eleva-se prateada.

As nuvens dançam ao seu redor, coroando-a, cintilando seu magnetismo e atormentando cada milímetro das minas veias enegrecidas pelo e seus males.

Poetas recitam versos românticos e apaixonados,  compositores fazem canções enaltecendo sua beleza e graça, artistas pincelam sua nobreza e soberania. Por mim é condenada a reinar solitária, esquecida e atemporal, desprovida de luz, consumida por seu próprio reflexo.

A tempestade queima a minha alma, reacendendo antigas memórias, e meu corpo inanimado envenena-se com paixões cruéis e violentas.

Você não está aqui, a única que poderia saciar minha sede, brindando-me com seu sangue turbulento, vivo, quente. Mas seus olhos vermelhos, com luxúria contida e uma discrição cínica que sempre ousaram manter, ignoram minhas súplicas. Como uma reza voluptuosa, quase sacrossanta, implorando por saciedade. Castigando justamente aquele que a presenteou com a eternidade e seus ímpios prazeres.

A fome por retaliação é visceral e excita meu ego há muito adormecido. Serei seu eterno amante, pois, a mim pertencem o amor e a vingança e a farei conhecê-los  em sua plenitude, proporcionando todas as sensações que, num momento de loucura, atrevi-me a poupá-la. Pagaremos juntos o preço por nossos pecados; o meu por ceder ao impulso, o seu por negar-se a vivê-los.

O silêncio será o nosso cárcere, intenso e duradouro, condenando ambos ao desatino. Duas psiques transtornadas, culpadas, mortalmente sedentas por emoções extintas. Nesse mundo, racional e febril, serei o único a saborear nossos delitos e deles extrairei o absoluto prazer da verdade.

DarkMoon

Duplicidade

As criaturas revelam-se ao anoitecer, seu momento no silêncio gutural de um mundo ultrajado.

Pensamentos ocultos transbordam as psiques, rebelando-se contra a moral pragmática, destruindo as defesas delicadas da consciência humana.

O vil se mostra ao nobre, a crueldade à benevolência, o libertino à modéstia.

Um pacto, um vício, uma necessidade.

A dualidade do ser é a sua maldição. Uma luta eterna, invencível, entre desejos insatisfeitos e ambições mundanas.

A arte, arrogantemente, arrisca-se a personificar suas faces, criando classificações e definições intelectuais, mas a profundidade dessa nudez permanece indistinta, obscura, em resposta à pobre representação de suas cores.

A música, com todas as suas escalas, acordes e harmonias, despudoradamente, expõe as emoções latentes, amplifica os sentidos e conduz o espírito ao seu utópico paraíso ou ao seu merecido inferno.

Fomos agraciados com pragas delicadas, ilícitas; atormentados por seu sabor e beleza, fragilidade e poder.

A sedução etérea para almas consumidas pela sombras de sua própria existência.

DarkMoon